“Crias Que Criam” na Ainda Galeria de Arte

No dia 26 de agosto foi inaugurada a Ainda Galeria de Arte, na Rua da Quitanda, nº 83, 2º andar, Centro do Rio de Janeiro. Sob a direção de Kariny Fenelon, o projeto teve início há dois anos, na internet, sendo uma de suas finalidades a venda de trabalhos de artistas independentes para todo o Brasil. Agora, com uma sede, a iniciativa passa a ter um espaço físico para chamar de seu.

A primeira exposição, “Crias Que Criam”, sob a curadoria de João Paulo Ovidio, reúne trabalhos de Ayra Aziza, BREU, Bruna Gomes, BXD Lambe (Silas Sena e Pietra Canle), Edu Ribeiro, Flavia Adriano, Jônatas Moreira, Juan Calvet, Juan Pablo, Karine de Souza, Marcos Aurélio, Monique Ribeiro e Viviane Laprovita. São pinturas, ilustrações, lambe-lambes, fotografias, esculturas e objetos, em sua maioria de artistas negros e moradores da Baixada Fluminense, com diferentes formações, experiências e repertórios. O conjunto traz um panorama atual de visualidades, símbolos e ícones da periferia.

Divulgação da Exposição “Crias Que Criam

Na primeira parede, os retratos, especialmente de Jônatas Moreira e Monique Ribeiro, ricos em cores, buscam valorizar a juventude e a beleza negra. As poses, as roupas, os gestos, remetem ao universo da moda. Na sequência, a estética urbana do lambe-lambe faz a transição entre um eixo e outro. Silas Sena, do BXD Lambe, presta uma homenagem à Lacraia, personalidade de grande importância para a comunidade LGBTQIAPN+, com uma arte que introduz na exposição a temática do funk carioca. Se de um lado Bruna Gomes pinta os bailes de favela dos dias de hoje, do outro, Viviane Laprovita traz a nostalgia da Furacão 2000.

Na segunda parede, as pinturas de BREU, como Rolezin na Praça, têm como foco o cotidiano. Em seu caso, bem como de Flávia Adriano, nota-se a referência à paisagem local. Embora fora dos cartões-postais, nossas arquiteturas e naturezas também são dignas de admiração. O mesmo sentimento é evocado nas fotografias de Karine de Souza, com a celebração da vida, e no lambe-lambe de Pietra Canle, do BXD Lambe, pelo orgulho de nossa ancestralidade. A infância se faz presente em vários momentos, como nas esculturas de Juan Pablo e nas ilustrações de Juan Calvet. Igualmente, atentos aos nossos problemas, vários artistas discutem em seus trabalhos questões como a mobilidade urbana e a desigualdade social. Afinal, toda arte é fruto de seu contexto e de seu tempo.

Abertura da exposição “Crias Que Criam“. Fotografia: Wendel Mereeuw.

Por fim, que possamos, cada vez mais, ter acesso ao que os nossos crias têm criado. Mais do que representações, eles são representatividade. Em cartaz até o dia 21 de outubro, a galeria funciona de quarta-feira a sexta-feira de 11h às 18h, e sábado até às 15h, sendo necessário agendar a visita pelo site. Entrada franca.

João Paulo Ovidio é Historiador da Arte, Editor-Chefe da Revista Desvio, Curador Independente, Professor Substituto de Comunicação Visual na EBA/UFRJ. Pesquisa, debate e escreve sobre arte moderna e contemporânea no Brasil, produção cultural na Baixada Fluminense e narrativas contra-hegemônicas no Sul Global.